terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A ortografia das estrelas e o pirata insone


“Ter a mesma estrela por todas as noites ou ter todas as estrelas em uma só noite?”. A pergunta é metafórica e um tanto quanto cheia de polissemia. Quando me indaguei desta forma, olhava o céu depois de ter lido uma matéria jornalística sobre um cometa que passaria próximo a Terra. Próximo? Bem, se for levar em conta o número - descontextualizado - da reportagem o próximo é muito distante. Muito distante mesmo!

Pois bem. A estrela ou as estrelas são os sentidos. A noite: o momento da vida em que mergulhamos em nós mesmos. Um mergulho que mais parece voo em céu aberto. Lá vou eu com mais metáforas ainda. Minha eterna dificuldade de ser direto! Por vezes a gente tangencia respostas? Talvez este tangenciar seja como o cometa que passou raspando a Terra...? 

Quantas vezes o mesmo caminho - levantar da cama devido a insônia, passar pelo corredor e chegar à varanda do apartamento - me leva para outros lugares: novas reflexões, novas sensações, novas respostas, novos mundos de imaginação, novos sentidos que vão se construindo na fumaça do café. Por vezes, o resultado é esse aqui: textos, textos, textos e mais textos. Alguns publicados, outros publicáveis mais mantidos em segredos. Outros sem perspectiva de publicação mesmo!

E o que são os textos: por vezes muitas estrelas em uma só noite. Por vezes, A Estrela. O farol para quem navega por mares de bravas tempestades. O farol para quem anda por tempos severos, distante da multidão, em silêncio na busca por onde atracar. Na espera de encontrar os seus. Uma taberna com um bom vinho. Ergam os copos bravos marujos, que o bravo pirata que ousou questionar o sentido do mundo está com sua caneca cheia de café e mandou avisar: eis mais uma bela e significativa estrela. Talvez não para o mundo, talvez não para ninguém, mas para ele: o pirata! 

A estrela que estava escondida num baú cujas paredes eram de silêncio. 

Fiat lux! Estrela rara cujo o brilho enxergamos em vida. Tudo isto de dentro de um texto? Sim! Ah, bravos marujos (vocês, meus queridos e poucos leitores!) se vocês soubessem enxergar nas entrelinhas deste texto os mares bravos para a sua composição. Mas sei - bravos marujos - que nas entrelinhas vocês acabam por enxergar os seus próprios mares.  Dentre sete mares, há sempre um oitavo mar a ser descoberto, não é mesmo? Mais uma das maravilhas das estrelas que nascem, das estrelas descobertas destes baús cujas paredes são de silêncio. 

O texto é curto marujos; foi bom o papo nesta taberna imaginária. É que tenho pressa. Da varanda do meu apartamento são quase 1 hora da madrugada, estou com uma caneca de café ao lado e aviso: vou zarpar solitariamente. Não quero todas as estrelas por uma só noite, mas a estrela que dê sentido por todas as noites e aí, lá vou eu buscar...que nas entrelinhas desta viagem estejam sempre uma boa porcentagem do que quero dizer...

O mar é revolto, mas treino olhar para a contemplação! 

PS: a repetição da palavra “bravo” é proposital. É como o “X” no mapa do tesouro.

Estrelas

Todas as estrelas em uma só noite?
Todas as noites ter a mesma estrela?
Todas as dores são varáveis de um mesmo açoite?
Vários açoites para a dor de uma vida inteira...

Sete mares sem sair do quarto
Tesouro do baú da parede de silêncio
Na fumaça do café um mapa abstrato
O X que na equação é uma variável...
...marca exatamente o que anda acontecendo!

Existirá porta
Existirá porto
Sempre em frente
Sempre enfrente
Pressão e pressa
A boca selvagem; presas do tempo

Da varanda, um cometa passou raspando
Da varanda, parecia um outro planeta
A multidão lá fora adormecida
Amanhã o meu disfarce será o silêncio

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Quanto mais você sobe, rumo às estrelas, mais solitário você fica. São poucos os que conseguem lhe acompanhar ou querer ir para onde você vai. O silêncio vira companheiro, que não lhe abandona nem mesmo no meio da multidão; porque ela é surda às sua palavras e ele fiel aos seus segredos.

    Buscar o conhecimento, é aventurar-se à solidão. Quanto mais conhecimento, mais difícil fica de compartilhá-lo. O silêncio, a xícara de café e o olhar da varanda para o infinito, viram companheiros...

    O oitavo mar é o único refúgio para quem não encontra, nos outros mares, um porto seguro que o acolha ou lhe entenda. Neste ponto eu lhe pergunto: o mundo está maluco, ou o maluco somos nós?

    É difícil aventurar-se a subir, quando todos estão indo em outras direções. Como se não bastasse, entre eles estão aqueles que gostaríamos que nos seguissem... mas, eles estão buscando outras estrelas...

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