segunda-feira, 25 de março de 2013

Não abra mão de si mesmo!


Não abra mão de si mesmo! Não abra mão de poder investigar filosoficamente o mundo ao seu redor. A atitude filosófica se dá de forma independente a quantidade de leituras que você tenha feito nos últimos anos; apesar - e isto é importante - dos livros serem os melhores amigos para se levar nesta viagem. 

O fato é que, os ditos “mestres” - ao invés de incentivarem a busca filosófica daqueles que enveredam pelo caminho do conhecimento - tem se preocupado muito mais em traçar, em cima de sistemas já postos, o fortalecimento de crenças pré-definidas. Mas, a princípio - antes de se admirar com o que falam das fadas - tente por si mesmo investigar o jardim. 

Não existe fórmulas mágicas para desmascarar os pseudo-mestres, mas mitos precisam ser combatidos e derrubados sempre. O caminho: estudar e pensar mais que eles. Não é por acaso que Sócrates - o sábio filósofo - compara as ideias a um parto (natural, no caso!). As mulheres sabem o quanto dói a passagem do bebê; mas, sabem também o amor puro que é possível devotar a cria. 

Neste sentido, acho a comparação socrática do “parto das ideias” perfeita. Pois filosofia é isto. A dor de pensar (e pensar por si mesmo ao tempo em que se consome as ideias postas), mas também a devoção e o amor à sabedoria que emerge do ato. Por isto, se eu tiver um conselho a dar aos estudantes é sempre este: não abram mão de si mesmos em função da pregação do mestre. Se for para absorver, que seja depois de se buscar refutar, de se investigar todos os pontos contrários ao que é dito.

Cada tempo tem sua mitologia. Logo, cada tempo terá os que desafiam os mitos. E mais: cada tempo tem seus pensamentos póstumos que só serão reconhecidos quando passado este tempo. Isto faz do tempo o senhor da razão. Isto faz da investigação filosófica um maior desafio ainda! Porém vital. 

Se hoje te perguntassem o que é essencial para viver bem e não apenas sobreviver em conformidade com o que o mundo serve na tua mesa? Você talvez respondesse muitas coisas e - quase de certeza - nenhuma das respostas seria “ter a mim mesmo”. Repito: não abra mão de si mesmo. Vale lembrar - que nesta busca - filósofos gregos não concordaram em ser chamados de sábios. Eles sabiam do muito que ignoravam e precisavam ser amigos da sabedoria, reconhecendo que nada sabiam, como afirmava Sócrates. 

Por um lado o olhar posto no abismo, por outro a capacidade de de ter - como afirma Miguel Reale - “um atitude crítica diante do real e da vida”. Por falar em Reale, o sábio pensador brasileiro ainda coloca: “vê-se, pois, que a Filosofia representa perene esforço de sondagem nas raízes dos problemas”. E o esforço só faz sentido se não abrirmos mãos de nós mesmos. Se não nos colocarmos como gado a ser tangido. 

Assim, utilizaremos esta mesma filosofia para dar sentido a valores, a compreender a liberdade, o bem, e termos um melhor mundo ao nosso redor. Pois pensamos em nós, ao tempo em que pensamos no humano, em nossa marcha. Como diz Karl Jaspers ao falar da filosofia: “este modo em marcha - o destino do homem no tempo - não exclui a possibilidade de uma profunda paz interior, e até mesmo, em certos instantes supremos, a de uma espécie de plenitude”. 

Ao encontrarmos em nós, desejaremos sempre tal bem para o outro; sem que precisemos despejar neles verdades prontas, mas simplesmente apontando os caminhos; lembrando para não abrirem mão de si mesmos. 

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